sexta-feira, 29 de janeiro de 2010


A cobra fumou... em solo brasileiro!
por Maria Leônia Chaves de Resende


“Eu os levei para o sacrifício:
cabia-me trazê-los de volta
para receberem as honras
e glórias de todos os brasileiros”.
Marechal Mascarenhas de Moraes

Na noite de 30 de junho de 1944, Getúlio Vargas compareceu a bordo do “General Mann” para se despedir, em nome do governo e da nação, dos soldados que seguiam para a Segunda Guerra Mundial. Ali mesmo fez suas promessas de amparar os combatentes e suas famílias. Um ano depois, o navio americano Meighs, ladeado por embarcações brasileiras e por salvas de tiros, entrava triunfante na baía da Guanabara, conduzindo os vitoriosos pracinhas do “front” para casa.

Tão logo desembarcaram no Rio de Janeiro foram recebidos com efusivas homenagens. Chuvas de confete caíam dos edifícios, enquanto bandeiras se agitavam, acenando aos ex-combatentes. À altura do Teatro Municipal, um pórtico estampava em verde e amarelo: “Bem-vindos à Pátria, Heróis!”. A multidão, tomada pela euforia, se acotovelava na Av. Rodrigues Alves, Rio Branco até a Candelária. Os pracinhas desfilavam altivos, exibindo as vitórias nos campos de batalha da Itália: Collecchio, Fornovo, Monte Castelo, Montese entre tantas outras.

Na região de São João del-Rei, de onde partiram tropas do 11RI, as comemorações não foram menos festivas, com o arroubo do povo entusiasmado pelo regresso de seus conterrâneos. Nas casas, ostentavam orgulhosamente um cartaz: “Daqui saiu um expedicionário!”. Mas, se os pracinhas, emocionados com a calorosa recepção, imaginavam que os dias penosos ficariam esquecidos em uma vaga lembrança, logo se deram conta do engano. Aqui mesmo, em solo brasileiro, outra guerra começava – a luta pela sobrevivência. Neste combate, esteve meu pai, Francisco Pedro de Resende, que me revelou, numa conversa emocionada, o “terrível sacrifício” que enfrentou no pós-guerra. Esse pequeno texto é um emblema daquilo que aconteceu com parte dos pracinhas, mas é, sobretudo, um registro do quanto aqueles momentos difíceis na vida de meu pai devem ser rememorados e celebrados como mais um sinal de sua fortaleza de espírito. E esse é seguramente o seu maior feito!

Tão logo se anunciou o fim da guerra, em maio de 1945, um aviso, expedido pelo Ministério da Guerra, determinava a dissolução da Força Expedicionária Brasileira ainda na Itália. A ordem era clara: à medida que as tropas desembarcassem no Brasil, os ex-combatentes seriam desincorporados das forças armadas, retornando às atividades em tempo de paz. Tal medida significava, na prática, a completa desmobilização da FEB. Assim, após a euforia da chegada, os febianos, então desvinculados do exército, receberam uma passagem para retornar as suas cidades de origem, cada um ao seu modo. Decorridos poucos dias, estavam abandonados à própria sorte. Logo compreenderam que as promessas de Vargas de amparar os pracinhas se calaram na imemorável noite de inverno de 44. E o teatro de operações recomeçava – dessa vez, no Brasil, onde outros momentos de privação e de dificuldades estavam reservados em um novo campo de batalha: na terra natal!

Como tantos outros, meu pai foi logo licenciado, passando a engrossar as fileiras de desempregados do País. A situação se agravou ainda mais porque, sendo de origem rural, pouco lhe restou. Assim, acabou se ocupando de pequenos negócios, entre outros biscates. Somente muitos anos depois, durante o governo de João Goulart, foi “aproveitado” no correio, onde trabalhou por “12 anos como carteiro e nos guichês”.

Outras lembranças lhe são ainda mais amargas. A mais tocante, certamente, foi o alto preço que pagou pela tão almejada reforma - a garantia de um soldo proporcional à patente. É o que transparece no seu desconcertante depoimento em que ele se recorda, com consternação, do fato de ter conseguido a reforma somente após “baixar no pavilhão” do Hospital Central do Exército do Rio de Janeiro. Conforme dispunha a lei, esse benefício destinava-se àqueles que tivessem alguma limitação por motivos de saúde. Por isso, tal vantagem dependia de uma perícia feita no HCE. Não é difícil imaginar o que ocorreu... Boa parte dos expedicionários, completamente desamparados e em total penúria, se sujeitou a uma “internação voluntária” nas enfermarias. Meu pai foi um dos pioneiros a encarar tamanho desafio, motivado pela “grande necessidade de assegurar o sustento de nossa família”. Mesmo sem sequelas psicológicas – a conhecida “neurose de guerra” -, apresentou-se no HCE em meados de 1976. Em poucos dias, estabeleceu um bom relacionamento com o enfermeiro Sarg. Paulo Gomes, responsável pelo pavilhão, ocupando-se dos serviços gerais e limpeza do pavilhão. Com o convívio e certamente condoído pela situação, o sargento acabou se tornando um “grande amigo”, dando-lhe “apoio moral” e “orientando nos melhores caminhos” para lidar com a junta médica. A visível decadência física e emocional, imposta pelas dificuldades de reintegração no pós-guerra – ainda mais agravada pela distância da família - certamente, reforçou seu abatimento. Lá permaneceu por longos 4 meses, na primeira internação, e mais 17 dias, na segunda.

Enquanto isso, minha mãe, professora primária, se incumbia da responsabilidade de cuidar dos onze filhos. Em consequência das dificuldades de comunicação da época, não tinham como manter contato frequente. “Tempos de insegurança”, pois ela sequer sabia “quando e como [ele] voltaria para casa”. Eu mesma ainda guardo da infância o seu semblante extenuado, coberto por uma longa barba, sempre justificado “por estar em tratamento de saúde”. Não é preciso dizer o quanto aqueles dias foram marcantes para todos nós!

Apesar da morosidade e dos entraves burocráticos, a reforma foi aprovada e publicada, finalmente, no Diário Oficial em novembro de 1976. Seja como for, não fosse a coragem para enfrentar tamanho desafio, meu pai – entre tantos outros veteranos - sequer teria conquistado algum reconhecimento até a Constituição de 1988 – quando, enfim, transcorrido quase meio século, foi assegurada uma pensão especial aos ex-combatentes.

Em homenagem aos seus feitos na juventude, ainda estampo, com orgulho, na parede de minha casa, uma carta emoldurada, escrita por ele no dia 16 de maio de 1945, noticiando o término da guerra, enquanto aguardava com expectativa o embarque para o “Brasil amado, cobertos de louros da vitória que nos custou inúmeros sacrifícios”. Durante todos esses anos, cada vez que eu a relia, era tomada por um sentimento de indignação – na condição de filha e de historiadora - e me perguntava quando ele teria o reconhecimento pelos sacrifícios que enfrentou também em solo brasileiro. Afinal, esses relatos, lamentáveis e vergonhosos, não se encontram registrados nos compêndios sobre a Segunda Guerra Mundial. Vieram à tona – certamente não sem dor e amargura - através do seu desabafo. Resistindo a esse descaso, ainda assim encontrou ânimo para tocar nessas “feridas” pacientemente – como é de seu temperamento (ou do que a vida lhe exigiu) – reforçando o valor e a fortaleza dos pracinhas. Cabe à nação, passar a limpo essas páginas e registrar nos anais de nossa História os feitos desses homens, na guerra e no pós-guerra, na Itália e no Brasil - lugar condigno e que, por justiça, todos eles devem ocupar. Para o meu pai esse dia finalmente chegou...
Agradecimentos
por Maria Tereza

O Francisquinho do Jota, o Francisquinho da Jardineira, o Veterano da FEB, o Chiquinho da Associação, o Mestre do Baralho, o plantador de árvores, o viajante, o provedor da casa, o filho de Zica e Jota, o irmão estimado, o esposo de D. Vanda, o genro de Soaninho e Sinhá, o cunhado sempre presente, o tio Buquiquinho, o pai de 11 filhos, o avô de 27 netos e bisnetos, o sogro discreto, o companheiro da ANVFEB, ele é o Sr. Francisco que completa hoje a plenitude de 90 anos de uma rica vida familiar, religiosa e cívica.

Por este motivo estamos todos reunidos celebrando e agradecendo a Deus a oportunidade que tivemos de compartilhar e usufruir de vida tão saudável, cheia de desafios e tão generosa.

Neste agradecimento se integram familiares e amigos na plenitude do amor, carinho e amizade que ele, durante esta vida longeva, fez por merecer.







Mensagens
Irmãs de Volta Redonda


Francisquinho, parabéns pelos seus 90 anos! Você é um irmão muito querido! Deus te abençoe hoje e sempre! Um abraço carinhoso da LILI
por Lili

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Caro mano Francisquinho, nosso herói, nosso exemplo. Certamente hoje é festa na terra, é festa no céu onde os anjos estão cantando hinos de louvor e alegria para celebrar o dom de sua vida. Hoje, de modo especial elevarei minhas preces pedindo a Deus que lhe cubra de bênçãos especiais com muita saúde e paz para continuar sua jornada dando o testemunho belíssimo de pai, esposo e irmão muito querido. Parabéns! Felicidades!
por Trindade (Dadade)

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Meu querido irmão Quinho,
Passado não volta. Relembrar momentos significativos é reviver. Você marcou muito minha infância no Cascalho Preto. Lembro-me de você sobrevoando o céu da fazenda pilotando um aviãozinho. Lembro-me também de sua convocação para o exército quando você escreveu alguns versos:
Minha querida irmã Theresinha
Na sua prece infantil
Reze para seu irmão
Que vai defender o Brasil.

por Therezinha

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"Às mocinhas de S.Francisco
(hoje Cel.Xavier Chaves)

Dou meu adeus final
Na esperança de voltar
E de uma delas conquistar".

Quando a guerra terminou foi preparada linda recepção para você na chácara da Rua Santo Antonio. Familiares, amigos e claro as mocinhas de São Francisco presentes, alegres e lindas. Lógico que uma delas você conquistou.

Hoje, 31.01.10 você completa 90 anos de muitas histórias. A mais linda entre elas é a família com sua maravilhosa e exemplar esposa e seus admiráveis 11 filhos, netos e bisnetos.
Vale a pena viver, principalmente o presente. Você inteiro aos 90 anos.

Obrigada Senhor.
Sua irmãzinha Therezinha

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Fotos Arquivo pessoal

(Acima) Pisa, Itália 1993; Paris França 1993;
(Abaixo)
Mato Grosso; Inauguração Monumento Itália

O século XX - o século das viagens
por Maria Zélia

Tudo pode ter começado quando a cobra fumou esfumaçando as imagens que ficavam para trás, serpenteando curvas pelas montanhas de Minas até alcançar o mar. E o mar, a visão do mar, o horizonte no mar despertou em sua mente a curiosidade de saber o que haveria além de todos os horizontes. Porque quem nasceu no início do século passado lá no Quebra Machado e viveu sua juventude no Cascalho Preto poderia estar condenado a jamais saber o que haveria além dos pastos do gado e dos passos dos cavalos. Mas o mar, a imensidão do mar, o horizonte do mar pode fazer uma alma vaguear por onde a imaginação sonhar. E sonhos são para serem perseguidos. E os anos passam lentamente enquanto os sonhos permanecem condenados, adormecidos... até que um beijo da vida os ressuscita.

Se o século XIX foi o século da razão, talvez se pudesse dizer que o século XX foi o século da transportação. Sim, neste século o mundo conheceu o potencial do trem, do automóvel, do avião, e o homem trilhou florestas, abriu estradas e cruzou os céus. Então o homem descobriu que poderia viajar, conhecer. O mundo ficou pequeno.

E foi assim, conduzido pelos seus sonhos e favorecido pelas facilidades da vida moderna, que Chiquinho meteu umas mudas de roupa em sua maleta e saiu a conhecer Minas. Andou Minas de norte a sul, de leste a oeste, até onde o benefício de uma lei mineira que concedia isenção aos ex-combatentes nos transportes coletivos o pudesse levar. E conheceu os sertões de Guimarães Rosa, as minas de ferro de Carlos Drumond de Andrade, as vertentes dos inconfidentes, a mata atlântica de Rubem Fonseca, o triângulo de Mário Palmério, o norte seco e quente de Darcy Ribeiro...

E não se dando por satisfeito e amparado pelas convocações para os encontros da Associação Nacional dos Veteranos da FEB viajou também pelo Brasil, de norte a sul, de leste a oeste.
Quem viaja não se contenta e quer sempre viajar mais e mais. Viajar é vício de inclinação, é seqüela de quem foi mordido por cobra que fuma e só precisa de uma desculpa para uma recidiva. Então voltou à Europa - à Itália - só para prestar homenagem aos companheiros mortos semeados em Pistóia. E como se uma homenagem só não fosse o bastante, lá retornou (que desculpa dessa vez haveria?).

Agora, aos noventa anos, deve viajar nas suas memórias, visitar os lugares onde foi e os que não foi. Onde o corpo não permite que se chegue a mente se encarrega!

Quer saber?


O que um senhor no alto dos seus 90 anos tem para nos dizer?
Então leia a entrevista que seu filho Luiz Antonio fez com Chiquinho da jardineira.


O que o senhor acha de mais positivo no tempo de sua juventude que não temos nos dias de hoje?
Um hábito muito interessante antigamente eram as visitas aos parentes que hoje não fazemos mais. Com isso se perdem contatos e conversas interessantes.

O que o senhor acha que tem de positivo nos tempos de hoje, em comparação a antigamente?
O socorro para saúde médica. Hoje você quase que escolhe o médico que quer ir, coisa que não acontecia antigamente, pois as dificuldades eram imensas.

Qual o segredo pra se chegar aos 90 anos nessa forma que o senhor se encontra?
Valorizar o dia-a-dia, procurar ter uma vida mais calma, tranqüila e não se esquentar com os problemas diários.

O Senhor aos 90 anos ainda teria um sonho que gostaria de realizar?
Não tenho nenhum. Já me sinto realizado porque não é qualquer um que chega aos 90 anos dessa forma e com a família que temos.

Qual a lição o Senhor tira da guerra que participou na Itália?
Penso que os dirigentes do mundo são os responsáveis, porque procuram se armar para superar os adversários, mas, deve-se fazer de tudo para manter a paz porque a guerra é uma coisa estúpida.

Aos 90 anos, qual o conselho o Senhor daria para os mais jovens?
Caminhar procurando a paz porque com a paz tudo é mais fácil de resolver.

Qual um fato positivo e negativo marcante em sua vida?
Penso que um fato positivo é a família unida, inclusive a convivência e os ensinamentos dos pais e avós. De negativo, a guerra.

Desculpe-me, mas e difícil não fazer uma pergunta, uns dizem que sim outros dizem que não, mas afinal de contas o senhor rouba ou não no baralho?
Depois de uma bela risadinha ele responde mineiramente: Jogo é jogo meu filho.
(Em seguida mais uma risadinha).




Nem oito nem oitenta: Noventa!
por Rafael Marcos

Chiquinho, Chiquinho do Jota, Chiquinho da Jardineira, Chiquinho da Vanda, Chiquinho... A gente vai vivendo e a vida vai nos mudando e mutando, assim meio sem planejamento, sem que nos apercebamos, às vezes mansamente, às vezes aos solavancos, ao sabor dos ventos de cada tempo, como se fossemos estações do ano. Não é para pior nem para melhor: há tanta beleza nas flores quanto nas sementes, há tanta sensação no calor quanto no frio.

Os Chiquinhos está fazendo noventa anos. Não são oito, nem oitenta: são noventa! Noventa são muitas estações. E quantas belezas e sensações permitem esse tempo? Devem ter sido tantas e tantas que não há como descrevê-las, como desvendá-las. Eu nem mesmo tentaria, eu que mal dou conta de entender os meus anos de vida, e são pouco mais da metade disso.

Churchill, inglês, em torno de seus noventa, disse, a respeito de sua longevidade, que “o segredo, meu caro, é o esporte... nunca o pratiquei” (coisas de britânico judicioso). Saburo Shichi, um japonês de 103 anos, não disse mas disseram por ele que o segredo de ter vivido tanto estava nos exercícios que fazia há mais de 50 anos à mesma hora do dia com a ajuda de um bastão, e os exercícios que fazia para o cérebro buscando sempre aprender uma coisa nova, e os exercícios que fazia com a boca – mastigava 30 vezes antes de deglutir o pouco alimento que consumia –... e outras coisas mais (coisas de japonês). Uma longeva mendiga americana revelou que a causa era fumar quatro maços de cigarros ao dia, tomar uma garrafa de Jack Daniels por semana e comer restos de comida que encontrava antes de se deitar (coisas de americanos). Clara Meadmore, escocesa, aos 105 anos, confidenciou que o segredo de sua longevidade era não ter feito sexo, morreria donzela (esquecimentos de sua caduquice...; ou seria coisa dos europeus?). Mário Quintana, brasileiro, eu não sei com qual idade, disse que “o segredo é não correr atrás das borboletas... é cuidar do jardim para que elas venham até você” (coisas de Mário Quintana).

Os cientistas, todos, querem saber os segredos da longevidade, a razão de se viver muito, e bem. O ser humano quer a eternidade, ainda que morto no reino dos céus, contudo, antes a quereria aqui mesmo, na terra, onde tem a pretensão da certeza de sua existência, e por via das dúvidas. Uns acham que a razão é genética (que assim seja!), outros que a causa está na alimentação, outros que é uma questão de estilo de vida e por aí vai. Chamou-me a atenção uma pesquisa de um cientista português que estudava curiosamente e detidamente os répteis, pois que estes aparentam não envelhecer. Sugeriu que está nos genes desses animais a chave para se entender e desvendar os mistérios da vida duradoura (coisas de português, com certeza). Enfim...

Não perguntei a que ele, Chiquinho, atribuiria sua longevidade. Talvez ele me dissesse que fosse o exercício da paciência e da paz, que há diferença entre elas, segundo ele. Talvez me dissesse que era pela falta de pressa e pela “normalidade” com que conduzia sua vida. Não sei, não quero saber. Contento-me em saber que vive uma vida que nos inspira e que nos faz querer viver mais e mais, de preferência ao seu lado.

Os Chiquinhos está fazendo noventa anos: o Chiquinho do Quebra Machado e da Taquara roubando doces de madrugada, o Chiquinho do Jota roçando pastos no Cascalho Preto, o Chiquinho Soldado combatendo na Guerra Mundial, o Chiquinho Mascate cavalgando pelas Vertentes, o Chiquinho da Jardineira viajando entre Resende Costa e Coroas (com a permissão dos Xavierenses), o Chiquinho da Vanda fazendo filhos aos montes, o Chiquinho dos Correios entregando notícias, o Chiquinho Veterano desfilando no 7 de setembro, o Chiquinho pai, avô e bisavô de todos nós, todos os Chiquinhos juntos.

Não se chega impune a essa idade: faz-se história. Temos de comemorar e agradecer, então comemoremos e agradeçamos por sua vida: - Parabéns! Obrigado! Saúde!






O JOGO DE BARALHO

COMO OBTER SABEDORIA E/OU ADQUIRIR AUTOCONHECIMENTO EM UM JOGO DE CARTAS!
por Chico filho

Existe certo preceito/recomendação de origem moral e religiosa de que os jogos seriam um grande desvio de conduta.

Mas estamos nos referindo ao prazer salutar e ao justo e merecido descanso após longas lutas de um guerreiro. E caso este argumento não fosse suficiente par anos livrar do “inferno” apregoado, resta-nos dizer em alto e bom som; não se está jogando /tergivando, muito menos apostando nenhum níquel sequer; muito menos valores sólidos e princípios básicos.

Assim sendo, não venha São Pedro e suas hierarquias impedir, obstaculizar com senões a entrada do meu progenitor nas odes celestiais, por fazer valer a sua meticulosa observação e astúcia frente à mediocridade dos seus adversários.

Lembrem-se sempre que aquele três (três) sem valor aparente, de qualquer naipe, descartado no início do jogo de buraco, o meu pai sempre soube e saberá que está em suas mãos!
Ao meu pai, um poço de sabedoria com e sem as academias oficialmente reconhecidas, ao observá-lo nas jogadas, tipo TSU-TSU – a arte da guerra – nos palcos e tapetes do jogo de cartas!

O PAI E A AGRICULTURA
por Paulo Sávio

Em meados da década de setenta iniciei o meu gosto de acompanhar papai em suas atividades agropecuárias. Ao chegar ao campo e apreciar a liberdade, ele abria os pulmões e exclamava – ô ô cambito ô ô cambito...

O interessante é que seus irmãos Zezé, Nicanor e Sebastião também gostavam de lidar com a pecuária. Quantas vezes saímos juntos para curar e averiguar as criações...

Na Jacuba, em companhia do Sr. Geraldo, aprendemos que cada trabalhador tem suas ferramentas – enxada e foice – para a lida diária, mas depois das tarefas realizadas um bom lanche e momentos livres para gozar do merecido descanso e da liberdade no campo.

Em nossa casa, no pequeno terreiro, tivemos: abelhas, laranjas, abacates, criação de galo, criação de canários, fogão a lenha e serragem, diversos canteiros com variadas espécies de acordo com cada época do ano.

Enfim, meu pai cultivou uma diversificação de propostas no labirinto rural e transmitiu para os filhos o gosto e o valor da vida próxima à natureza.






Bodas de 60 anos de casamento






CURIOSIDADES, HÁBITOS E COSTUMES
Por M.Paulina

Saudações expedicionárias, não há quem não saiba, na família, como devemos nos reportar ao nosso comandante e patriarca. Um homem de feitos raros. Lutou a maior guerra da humanidade, sem perder a sua própria. Voltou vitorioso, e foi vitorioso ao conquistar um dos corações mais nobres das redondezas.

Teve 11 filhos. Chegou aos 60 anos de casado e agora sopra 90 velinhas. Quantas pessoas podem se gabar de tanto em tão poucas linhas!

Sua sabedoria se estende além da capacidade de escolher um ótimo queijo minas para misturar ao melado caseiro sempre feito por ele mesmo Ou em memorizar cartas dos adversários no buraco, terreno duro de ser batido. A ponto de alguns guardarem como troféus os canhotos que demonstram as parcas conquistas.

Homem precavido e tradicional guarda ainda costumes de homens de uma época de elegância. Quando chapéu e terno eram trajes obrigatórios para ir às ruas. Tempo em que alfaiatarias viviam movimentadas e ocupavam os pontos mais nobres do comércio. Claro que se modernizou, mas não tente encontrá-lo de bermudas e se quiser saber as horas, não procure em seu pulso, pois o relógio é de bolso. Na mesa, a cabeceira é lugar reservado. Mas não tem qualquer dificuldade de se servir. Sabe bem que esse é um momento em que ninguém tem braços curtos. Solidário, chama o visitante a se juntar ao banquete. Opa, vamo chegâ. Mesmo que ninguém
esteja junto à janela e, mais uma vez, os presentes caiam na piada.

Se mineiro não perde trem, deve ter aprendido muito bem a como ser precavido desde cedo. Carrega sempre consigo uma caneta pronta a atender aos mais variados usos. Inclusive no casamento da filha Paulina. Se a caneta oficial para consumar o casório havia desaparecido, salvou o dia oferecendo a sua. Até hoje presente nos álbuns de recordação. Quando seguia pra roça, além da caneta, trazia sempre no bolso canivete, sacola de supermercado e barbante. Se a
oportunidade se apresentasse, descascava e degustava uma laranja junto ao pé. Em seguida enchia a sacola e garantia a vitamina C orgânica da semana.

Sua assinatura também passa pelos carros da família. Todos devem carregar o adesivo da FEB. Impõe respeito. Não é para menos, depois de toda a bravura demonstrada pelos brasileiros na Segunda Grande Guerra.

Mas se naquele tempo a cobra fumava e o bicho pegava, Chiquinho da Taquara, hoje é visto e lembrado pelo coração grande, paciência e benevolência. Talvez os filhos consigam se lembrar de algum puxão de orelha corretivo do vovô, mas os netos, duvido muito. Assim é Francisco, homem de legado forte, atitudes surpreendentes e curiosidades marcantes.
Arrivederte!

OS FILHOS



Sr. Francisco e D. Vanda tiveram 11 filhos:
Maria Tereza
Maria Celina
Francisco Eduardo
Maria Luiza
Maria Paulina
Rafael Marcos
Luiz Antonio
José Claudio
Paulo Sávio
Maria Leônia
Maria Zélia

Veja o quadro bordado com os nomes dos filhos,genros,noras,netos e bisnetos.


Palavras da esposa D.VANDA:

Estou certa de que não será possível traduzir todo o meu afeto, carinho e admiração pelo meu esposo Francisco nesse pequeno trecho. Ele é meu companheiro inseparável desde 1949 e nesse convívio de 60 anos cada dia ele me surpreende, pois atrás da timidez e humildade está um homem verdadeiramente corajoso e honesto e um cidadão exemplar que participou da 2ª. Guerra com muita honra.

A Família e os Amigos sabem quantos desafios enfrentamos e o quanto ele permaneceu com paciência, bom senso, serenidade e esperança em dias melhores.

Para educar os 11 filhos, todos recebidos com muito amor e carinho, tivemos valiosas ajudas inesperadas.
Hoje agradecemos a Deus todo poderoso chegar até aqui. Ele com 90 anos e eu com 86 podendo afirmar que fomos vitoriosos.

Esta é uma oportunidade que se me apresenta para testemunhar a minha felicidade ao lado desse homem, companheiro e esposo ideal e desejando que todos os casais se entendam, isto é, que sejam felizes o quanto se pode ser...

A convivência entre as famílias Chaves e Resende



A união das famílas Chaves e Resende
por Maria Celina

Coube-me algumas palavras sobre a amizade entre as famílias de nossos pais. Aproveitei bastante deste convívio pois sempre fui muito ligada às tias de ambos os lados e gostava de ouvir os casos que contavam. Tia Dadade como afilhada tanto da Vovó Sinhá e Vovô Soaninho como da Tia Carmen e da mamãe fica muito empolgada ao falar da união das famílias Chaves e Resende.

Entre os muitos casos me despertou atenção que o Vô Jota liderou um movimento entre a população de Coronel Xavier Chaves para presentear Vovô Soaninho com a casa na praça central da cidade. Este presente teve o objetivo de agradecer ao Vô Soaninho pelos serviços prestados gratuitamente à comunidade na área da saúde.

Esta amizade tão bonita entre nossos avós paternos e maternos se estendeu às outras gerações e nós os netos crescemos desfrutando desta harmonia nos relacionamentos.

Com esta inspiração buscamos a amizade entre os primos e temos dentro de nós gravado o exemplo da boa convivência que sonhamos passar para nossos filhos e netos.