sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Fotos Arquivo pessoal

(Acima) Pisa, Itália 1993; Paris França 1993;
(Abaixo)
Mato Grosso; Inauguração Monumento Itália

O século XX - o século das viagens
por Maria Zélia

Tudo pode ter começado quando a cobra fumou esfumaçando as imagens que ficavam para trás, serpenteando curvas pelas montanhas de Minas até alcançar o mar. E o mar, a visão do mar, o horizonte no mar despertou em sua mente a curiosidade de saber o que haveria além de todos os horizontes. Porque quem nasceu no início do século passado lá no Quebra Machado e viveu sua juventude no Cascalho Preto poderia estar condenado a jamais saber o que haveria além dos pastos do gado e dos passos dos cavalos. Mas o mar, a imensidão do mar, o horizonte do mar pode fazer uma alma vaguear por onde a imaginação sonhar. E sonhos são para serem perseguidos. E os anos passam lentamente enquanto os sonhos permanecem condenados, adormecidos... até que um beijo da vida os ressuscita.

Se o século XIX foi o século da razão, talvez se pudesse dizer que o século XX foi o século da transportação. Sim, neste século o mundo conheceu o potencial do trem, do automóvel, do avião, e o homem trilhou florestas, abriu estradas e cruzou os céus. Então o homem descobriu que poderia viajar, conhecer. O mundo ficou pequeno.

E foi assim, conduzido pelos seus sonhos e favorecido pelas facilidades da vida moderna, que Chiquinho meteu umas mudas de roupa em sua maleta e saiu a conhecer Minas. Andou Minas de norte a sul, de leste a oeste, até onde o benefício de uma lei mineira que concedia isenção aos ex-combatentes nos transportes coletivos o pudesse levar. E conheceu os sertões de Guimarães Rosa, as minas de ferro de Carlos Drumond de Andrade, as vertentes dos inconfidentes, a mata atlântica de Rubem Fonseca, o triângulo de Mário Palmério, o norte seco e quente de Darcy Ribeiro...

E não se dando por satisfeito e amparado pelas convocações para os encontros da Associação Nacional dos Veteranos da FEB viajou também pelo Brasil, de norte a sul, de leste a oeste.
Quem viaja não se contenta e quer sempre viajar mais e mais. Viajar é vício de inclinação, é seqüela de quem foi mordido por cobra que fuma e só precisa de uma desculpa para uma recidiva. Então voltou à Europa - à Itália - só para prestar homenagem aos companheiros mortos semeados em Pistóia. E como se uma homenagem só não fosse o bastante, lá retornou (que desculpa dessa vez haveria?).

Agora, aos noventa anos, deve viajar nas suas memórias, visitar os lugares onde foi e os que não foi. Onde o corpo não permite que se chegue a mente se encarrega!

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