sexta-feira, 29 de janeiro de 2010





Nem oito nem oitenta: Noventa!
por Rafael Marcos

Chiquinho, Chiquinho do Jota, Chiquinho da Jardineira, Chiquinho da Vanda, Chiquinho... A gente vai vivendo e a vida vai nos mudando e mutando, assim meio sem planejamento, sem que nos apercebamos, às vezes mansamente, às vezes aos solavancos, ao sabor dos ventos de cada tempo, como se fossemos estações do ano. Não é para pior nem para melhor: há tanta beleza nas flores quanto nas sementes, há tanta sensação no calor quanto no frio.

Os Chiquinhos está fazendo noventa anos. Não são oito, nem oitenta: são noventa! Noventa são muitas estações. E quantas belezas e sensações permitem esse tempo? Devem ter sido tantas e tantas que não há como descrevê-las, como desvendá-las. Eu nem mesmo tentaria, eu que mal dou conta de entender os meus anos de vida, e são pouco mais da metade disso.

Churchill, inglês, em torno de seus noventa, disse, a respeito de sua longevidade, que “o segredo, meu caro, é o esporte... nunca o pratiquei” (coisas de britânico judicioso). Saburo Shichi, um japonês de 103 anos, não disse mas disseram por ele que o segredo de ter vivido tanto estava nos exercícios que fazia há mais de 50 anos à mesma hora do dia com a ajuda de um bastão, e os exercícios que fazia para o cérebro buscando sempre aprender uma coisa nova, e os exercícios que fazia com a boca – mastigava 30 vezes antes de deglutir o pouco alimento que consumia –... e outras coisas mais (coisas de japonês). Uma longeva mendiga americana revelou que a causa era fumar quatro maços de cigarros ao dia, tomar uma garrafa de Jack Daniels por semana e comer restos de comida que encontrava antes de se deitar (coisas de americanos). Clara Meadmore, escocesa, aos 105 anos, confidenciou que o segredo de sua longevidade era não ter feito sexo, morreria donzela (esquecimentos de sua caduquice...; ou seria coisa dos europeus?). Mário Quintana, brasileiro, eu não sei com qual idade, disse que “o segredo é não correr atrás das borboletas... é cuidar do jardim para que elas venham até você” (coisas de Mário Quintana).

Os cientistas, todos, querem saber os segredos da longevidade, a razão de se viver muito, e bem. O ser humano quer a eternidade, ainda que morto no reino dos céus, contudo, antes a quereria aqui mesmo, na terra, onde tem a pretensão da certeza de sua existência, e por via das dúvidas. Uns acham que a razão é genética (que assim seja!), outros que a causa está na alimentação, outros que é uma questão de estilo de vida e por aí vai. Chamou-me a atenção uma pesquisa de um cientista português que estudava curiosamente e detidamente os répteis, pois que estes aparentam não envelhecer. Sugeriu que está nos genes desses animais a chave para se entender e desvendar os mistérios da vida duradoura (coisas de português, com certeza). Enfim...

Não perguntei a que ele, Chiquinho, atribuiria sua longevidade. Talvez ele me dissesse que fosse o exercício da paciência e da paz, que há diferença entre elas, segundo ele. Talvez me dissesse que era pela falta de pressa e pela “normalidade” com que conduzia sua vida. Não sei, não quero saber. Contento-me em saber que vive uma vida que nos inspira e que nos faz querer viver mais e mais, de preferência ao seu lado.

Os Chiquinhos está fazendo noventa anos: o Chiquinho do Quebra Machado e da Taquara roubando doces de madrugada, o Chiquinho do Jota roçando pastos no Cascalho Preto, o Chiquinho Soldado combatendo na Guerra Mundial, o Chiquinho Mascate cavalgando pelas Vertentes, o Chiquinho da Jardineira viajando entre Resende Costa e Coroas (com a permissão dos Xavierenses), o Chiquinho da Vanda fazendo filhos aos montes, o Chiquinho dos Correios entregando notícias, o Chiquinho Veterano desfilando no 7 de setembro, o Chiquinho pai, avô e bisavô de todos nós, todos os Chiquinhos juntos.

Não se chega impune a essa idade: faz-se história. Temos de comemorar e agradecer, então comemoremos e agradeçamos por sua vida: - Parabéns! Obrigado! Saúde!






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